Internet via vatélite russa: o fim da hegemonia da Starlink? por Lisa Marie Bastos

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Internet via vatélite russa: o fim da hegemonia da Starlink? por Lisa Marie Bastos

2 de outubro de 2025 Blog 0

A agência espacial russa, a Roscosmos, está avançando rapidamente no desenvolvimento de um sistema próprio de internet via satélite em órbita baixa.

Criado em agosto de 2015, o projeto, conduzido pelo Bureau 1440, já possui veículos de teste em órbita e apresenta resultados positivos em experimentos de comunicação entre 30 e 1000 km. Em dezembro deste ano, a primeira fase do projeto prevê o lançamento de cerca de 300 satélites, número que deve ser aumentado para 900 unidades com a realização da segunda etapa do trabalho desempenhado pela Roscosmos. 

A partir disso, o especialista militar Yuri Knutov explica que a tecnologia russa trabalha em contraponto com a utilizada pela SpaceX com a internet via satélite da Starlink. “O sistema russo utiliza feixes de laser, tecnologias digitais mais modernas que fornecem dados mais rápidos e de melhor qualidade, bem como aumentam a resistência à interferências.”, citou Knutov. Ademais, o especialista ainda menciona o alcance de até 5000 km do sistema, reduzindo para centenas a quantidade de satélites necessários. 

O sistema, desenvolvido pelo Bureau 1440, ainda prevê o fornecimento de internet rápida e segura não só para empresas russas que trabalham em áreas remotas, bem como para navios situados em qualquer lugar da Terra e, também, usuários comuns. Yuri Knutov, não obstante, acredita que esse projeto pode ter impacto geopolítico, sendo uma alternativa para a tecnologia estadunidense. O especialista entende que a dependência dos países do Sul Global da internet via Starlink, dos EUA, os torna vulneráveis, tornando a disponibilidade de um sistema que fornece serviços de melhor qualidade, como o russo, crucial. 

A União Soviética, em 1957, foi a primeira a lançar um satélite em órbita, o Sputnik 1, além de ter sido responsável por mandar o primeiro homem ao espaço em 1961, o cosmonauta Yuri Gagarin. No entanto, após 1991, com a queda do bloco soviético, o programa espacial russo passou a enfrentar uma série de problemas. Nesse viés, a nova ambição russa com a Roscosmos e o projeto conduzido pela Bureau 1440, surge para colocar Moscou, novamente, no cenário da corrida espacial, atualmente dominada pela tecnologia norte-americana, que conta com mais de 6000 satélites em órbita. Com o início das suas operações comerciais previstas para 2027, portanto, espera-se que a Rússia possa desafiar novamente o poderio espacial de Washington e possa se lançar como uma potência no espaço sideral, além de permitir que outros países possuam alternativas contra a hegemonia do sistema estadunidense no setor. 

Referências:

Russia Rivals US in Full-Spectrum Space Capabilities – Roscosmos Head. (2025, 28 de agosto). Sputnik International. Disponível em: https://sputnikglobe.com/20250728/russia-rivals-us-in-full-spectrum-space-capabilities—roscosmos-head-1122503175.html 

Russia’s Hi-Tech Starlink Analog Can Free Global South From US Tech Dominance: Here’s How. (2025, 17 de setembro). Sputnik International. Disponível em: https://sputnikglobe.com/20250917/russias-hi-tech-starlink-analog-can-free-global-south-from-us-tech-dominance-heres-how-1122802372.html 

Russia developing Starlink rival at ‘rapid pace’, space chief says. (2025, 17 de setembro). Reuters. Disponível em: https://www.reuters.com/world/china/russia-developing-starlink-rival-rapid-pace-space-chief-says-2025-09-17/

Rússia acelera desenvolvimento de rival do Starlink com tecnologia a laser, diz especialista. (2025, 18 de setembro). Sputnik Brasil. Disponível em: https://noticiabrasil.net.br/20250918/russia-acelera-desenvolvimento-de-rival-do-starlink-com-tecnologia-a-laser-diz-especialista-43363021.html 

* Lisa Marie B. Bastos é pesquisadora do LabGRIMA/UFPEL.