Um estadunidense a quem possa confiar? A visita de Mohammed Bin Salman aos EUA por Mateus Santos
Na última terça-feira (18), uma comitiva saudita, liderada pelo príncipe-herdeiro e governante, de fato, do país, Mohammed Bin Salman (MBS), foi recebida na Casa Branca pelo presidente Donald Trump.
Nos contornos de uma agenda estratégica para os EUA, a recepção à MBS foi marcada por uma série de promessas sobre o futuro das relações entre os dois países. Do lado estadunidense, o anúncio da venda de dezenas de caças F-35, atendendo aos anseios de Riad em avançar na modernização das forças armadas. Do lado saudita, a reafirmação das expectativas sobre a realização de investimentos na economia estadunidense, em valores que variam entre US$ 600 bilhões e até US$ 1 trilhão nos próximos anos (LIVE…, 2025). Houve ainda espaço para a discussão sobre um Acordo de Defesa entre os países, além de entendimentos entre o Reino e as chamadas Big Techs.
O encontro dessa semana constituiu não apenas um gesto de reciprocidade frente ao primeiro encontro entre o presidente estadunidense e o príncipe saudita no mês de maio. Dessa vez, a recepção em Washington assume um caráter histórico, tendo em vista o contexto recente das relações entre EUA e Arábia Saudita. Essa é a primeira visita de MBS aos EUA nessa década. Sua última passagem pelo país coincidentemente ocorreu durante o primeiro governo Trump. Naquela ocasião, nem a Guerra do Iêmen, nem as controvérsias envolvendo o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi constituíam constrangimentos diante da existência de uma relativa convergência entre os dois países em diferentes campos geopolíticos e geoeconômicos (Mason, 2023). Contudo, isso foi exceção à regra de desconforto nos laços entre os dois países. De lá pra cá, estadunidenses e sauditas continuaram a desenvolver uma trajetória marcada por descompassos, num processo que pode ser classificado como sintomático quanto às dificuldades registradas pela antiga superpotência sobre a sua capacidade de manobra no xadrez geopolítico do Oriente Médio.
Nesse contexto, o novo governo Trump busca reorientar a sua política para a região, tendo como um dos pilares a recuperação de confiança junto a lideranças como MBS. Entretanto, uma questão se coloca: o que transforma o cenário atual em mais desafiante do que o vivenciado durante a segunda metade da década passada? O que se pode esperar efetivamente das promessas recíprocas entre o presidente estadunidense e o príncipe saudita num contexto marcado pelo aprofundamento das transformações na inserção internacional do país árabe? Duas questões centrais diante de uma época de muita incerteza quanto ao futuro do Oriente Médio após dois anos de conflito na Faixa de Gaza e mudanças nas correlações de força entre alguns dos principais atores regionais.
O que os EUA representam historicamente para a Arábia Saudita?
Historicamente, Riad foi uma das principais portas de entrada para os EUA no Oriente Médio. Num cenário em que Londres e Paris constituíam as principais linhas de força externa na região, a Arábia Saudita constituiu uma ponte estratégica para Washington, ampliando o acesso às ricas reservas petrolíferas do Golfo, projetando uma aliança informal envolvendo a garantia de segurança do reino e o desenvolvimento de ações de contenção às expansões do nacionalismo e do comunismo (Al-Rasheed, 2010). Nessa perspectiva, Riad constituiu em uma das principais forças contrahegemônicas no xadrez geopolítico regional, além de uma potência não-convencional que combinava instrumentalização das crescentes capacidades econômico-financeiras, mobilização do soft power cultural e religioso, além dos vínculos estabelecidos junto às potências capitalistas (Gause III, 2014).
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