Modi e Trump: Desafios e Oportunidades no Fortalecimento das Relações Indo-Estadunidenses por Glauco Winkel
Índia e Estados Unidos se reuniram em 13 de fevereiro, em Washington, onde o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, e o presidente Donald Trump discutiram a cooperação militar e econômica entre os países.
Os EUA buscam fortalecer a cooperação militar com Nova Delhi, ampliando a securitização do Indo-Pacífico, enquanto a Índia busca acordos comerciais mais equilibrados e atenção à pauta migratória, especialmente no que diz respeito às deportações.
Durante o governo Biden, os laços entre os países se estreitaram, com a Índia exercendo uma postura de liderança no Diálogo de Segurança Quadrilateral (QUAD), que envolve também Japão e Austrália, outros dois países da região do Indo-Pacífico. No recente encontro com Modi, o presidente estadunidense reafirmou o compromisso do país em vender equipamentos militares e realizar exercícios conjuntos, como o exercício Tiger Triumph, que envolve todas as forças armadas dos países, tendo ocorrido pela primeira vez em 2019. Essa colaboração busca garantir a interoperabilidade militar (capacidade de forças armadas de diferentes países operarem juntas de forma eficiente) e expandir a parceria nesse setor entre as nações.
Apesar da crescente cooperação bilateral, os desafios continuam a surgir nas relações comerciais. Nova Delhi busca acordos mais amplos, enquanto os EUA acusam o país de impor tarifas elevadas sobre produtos americanos, dificultando o comércio. Trump prometeu impor tarifas de 10% a 20% sobre todas as importações, além de aplicar tarifas ainda mais altas a um grupo seleto de países, incluindo os indianos. Caso ele cumpra essa promessa, é possível que o país asiático responda com tarifas retaliatórias. Esse movimento pode ser interpretado como uma política comercial retaliatória contra o protecionismo indiano ou como um blefe para forçar uma negociação mais favorável aos Estados Unidos, estratégia tradicional da política externa de Trump.
Outro ponto importante é que, em 2022, os EUA registraram um déficit comercial com a Índia superior a 45 bilhões de dólares (Council on Foreign Relations, 2025). Para Trump, esse déficit é representativo das altas barreiras comerciais dos indianos, o que o leva a rotular o país como o “rei das tarifas”. De fato, Modi utiliza altas tarifas como uma estratégia para proteger indústrias nacionais, atrair investimentos estrangeiros e promover sua política “Make in India”. Além disso, a presença da nação asiática no BRICS+ gera preocupações para Modi, especialmente diante das ameaças de Trump de retaliar o conjunto de países em desenvolvimento. Assim, para alcançar um acordo “abrangente e recíproco”, ambos os países precisarão ceder em determinados aspectos.
A imigração é uma questão sensível para a Índia, com cerca de 5 milhões de indianos vivendo nos Estados Unidos, dos quais aproximadamente 725 mil estão em situação irregular. Nova Delhi já se comprometeu a repatriar 20 mil de seus cidadãos (CSIS, 2025). No entanto, a possível restrição do visto H-1B, amplamente utilizado pelos nacionais do país, gera preocupação entre a comunidade. Em contrapartida, o setor de Inteligência Artificial (IA) surge como uma alternativa promissora, permitindo que o presidente indiano argumente a favor da presença de seus cidadãos no país, ao destacar sua expertise para impulsionar programas conjuntos entre universidades indianas e americanas.
Em conclusão, as relações bilaterais entre Índia e Estados Unidos encontram-se em um ponto crítico, marcadas por uma crescente cooperação militar, desafios comerciais e questões migratórias delicadas. A capacidade de ambos os países de lidar com essas complexidades será fundamental para a continuidade da cooperação, além de influenciar a dinâmica de poder no Indo-Pacífico e na ordem mundial do século XXI. O país asiático tem o potencial de desempenhar um papel crucial na configuração da nova ordem geopolítica internacional, especialmente diante da crescente competitividade entre os Estados Unidos e a China. O grande desafio para os indianos será conciliar seus interesses nas dinâmicas do QUAD e do BRICS+, equilibrando questões de segurança com os imperativos comerciais e migratórios. Assim, essa tarefa se apresenta como um tema desafiador e instigante para futuras análises, que exigem uma compreensão profunda das prioridades geopolíticas e econômicas de ambos os países.
Referências
HADDA, Katherine B. How Trump 2.0 Immigration Policies Could Strain Modi’s U.S. Strategy. CSIS, 10 de fevereiro de 2025. Disponível em: https://www.csis.org/analysis/how-trump-20-immigration-policies-could-strain-modis-us-strategy. Acesso em 27 de fevereiro de 2025.
JUSTER, Kenneth I; LINSCOTT, Mark. It’s Time for a U.S.-India Trade Deal. Council on Foreign Relations, 31 de janeiro de 2025. Disponível em: https://www.cfr.org/article/its-time-us-india-trade-deal. Acesso em 27 de fevereiro de 2025.
ROSSOW, Richard M. U.S.-India Summit: A Productive Trip and a Busy Year Ahead. CSIS, 14 de fevereiro de 2025. Disponível em: https://www.csis.org/analysis/us-india-summit-productive-trip-and-busy-year-ahead. Acesso em 27 de fevereiro de 2025.