Ausência da China fragiliza cúpula do BRICS, mas abre espaço para maior protagonismo do Brasil por Glauco Winkel

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Ausência da China fragiliza cúpula do BRICS, mas abre espaço para maior protagonismo do Brasil por Glauco Winkel

6 de julho de 2025 Blog 0

A 17ª Cúpula do BRICS, que começa nos dias 6 e 7 de julho de 2025, no Rio de Janeiro, enfrenta desafios significativos decorrentes de ausências de peso, que fragilizam o encontro e alteram a dinâmica tradicional do bloco.

Os presidentes da China (Xi Jinping), Rússia (Vladimir Putin) e Irã (Masoud Pezeshkian) não comparecerão presencialmente, sendo representados por videoconferência ou por delegações de alto nível — como o primeiro-ministro chinês Li Qiang e o chanceler russo Sergei Lavrov (Poder360, 2025).

A ausência de Xi Jinping, justificada por “conflitos de agenda”, rompe com sua histórica participação presencial no fórum, enquanto a não vinda de Putin está diretamente relacionada ao mandado de prisão expedido pelo Tribunal Penal Internacional, colocando o Brasil em posição diplomática sensível, dada sua vinculação à Corte. No caso do Irã, a prioridade atual recai sobre a reconstrução interna diante das tensões regionais que o país enfrenta. Apesar dessas ausências, a cúpula reunirá representantes de 28 países, entre membros e parceiros do BRICS, e contará com a presença do primeiro-ministro indiano Narendra Modi, que também realizará visita de Estado ao Brasil.

Nesse contexto, é relevante destacar o papel econômico do BRICS no comércio exterior brasileiro. Em 2024, os países do bloco representaram cerca de 36% das exportações e 33% das importações totais do Brasil, segundo dados do ComexStat (2024). Esse intercâmbio tem crescido de forma significativa, impulsionado sobretudo pela demanda por commodities como soja, petróleo bruto e minério de ferro.

A China, de forma destacada, foi o principal destino das exportações brasileiras dentro do bloco, absorvendo 78% do total em 2024. Em seguida, figuraram Índia (4,3%), Emirados Árabes Unidos (3,7%), Indonésia (3,7%) e Egito (3,3%). Os dados mais recentes, referentes ao período de janeiro a maio de 2025, indicam a manutenção dessa tendência: a China concentrou 79% das exportações brasileiras destinadas ao BRICS, seguida por Índia (5%), Indonésia (3,6%) e Emirados Árabes Unidos (2,8%) (ComexStat, 2024). Esses números não apenas reafirmam a centralidade da China na pauta externa brasileira, como também evidenciam a crescente importância de outros atores asiáticos, especialmente Índia e Indonésia, no comércio com o Brasil.

Diante desse cenário, Correia e Lima (2025) observam que, embora a ausência de líderes tradicionais fragilize a cúpula, ela também abre espaço para que o Brasil desempenhe um papel mais relevante nas discussões. Questões consensuais como o uso de moedas locais no comércio, saúde global, mudanças climáticas e regulação da inteligência artificial devem ganhar destaque. Já temas mais sensíveis — como o conflito entre Irã e Israel e os desafios da ampliação do grupo — também estarão em pauta.

A expansão do BRICS, que se tornou mais heterogêneo com a entrada de novos membros, tem gerado diferentes posições no interior do bloco. Enquanto China e Rússia defendem uma ampliação mais abrangente, o Brasil adota uma postura cautelosa, priorizando a coesão e a eficácia do grupo.

Sob a presidência de Lula, o Brasil busca fortalecer o BRICS como uma plataforma de articulação entre países emergentes, por meio de uma diplomacia pragmática e não confrontacional em relação ao Ocidente. Nesse contexto, a atuação da ex-presidenta Dilma Rousseff à frente do Novo Banco de Desenvolvimento reforça o compromisso brasileiro com uma agenda de desenvolvimento multilateral. Embora o atual cenário imponha limites às ambições do bloco, a conjuntura oferece uma oportunidade para que o Brasil assuma um papel mais ativo, diante da reconfiguração das lideranças tradicionais no interior do BRICS.

Referências

CARVALHO, José Reinaldo. BRICS 2025 No Brasil: o desafio da unidade para construir a nova ordem mundial. Brasil: Brazil247, 2025. Disponível em: <https://www.brasil247.com/blog/brics-2025-no-brasil-o-desafio-da-unidade-para-construir-a-nova-ordem-mundial>. Acesso em: 3 jul. 2025.

COMEXStat. BRICS: Exportações, Importações e Balança Comercial – Parceiro. Brasil: ComexStat, 2024. Disponível em: <https://comexstat.mdic.gov.br/pt/comex-vis/3/53>. Acesso em: 3 jul. 2025.

CORREIA, Victor; LIMA, Francisco Artur de. Lula domina a cúpula do Brics com ausências de presidentes de outros países. Brasil: Correio Braziliense, 2025. Disponível em: <https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2025/06/7187077-lula-domina-a-cupula-do-brics-com-ausencias-de-presidentes-de-outros-paises.html#google_vignette>. Acesso em: 3 jul. 2025.

NAPOLI, Eric. China confirma que Xi Jinping não irá à cúpula do BRICS no Rio. Brasil: Poder 360, 2025. Disponível em: <https://www.poder360.com.br/poder-china/china-confirma-que-xi-jinping-nao-ira-a-cupula-do-brics-no-rio/>. Acesso em: 3 jul. 2025.

Glauco Winkel é pesquisador sobre China e Sudeste Asiático no Laboratório de Geopolítica, Relações Internacionais e Movimentos Antissistêmicos (LabGRIMA) e pesquisador associado no Centro de Estudos em Geopolítica e Relações Internacionais (CENEGRI).