“Oitenta anos depois, ONU segue presa em 1945 e reforçando divisões, avaliam analistas”. Charles Pennaforte opina | Sputnik Br |

À Sputnik Brasil, especialistas apontam que a Organização das Nações Unidas (ONU) segue alicerçada sobre uma base de pós-guerra, em uma configuração que não reflete mais a realidade, e que a ascensão do Sul Global escancarou a falta de representatividade da organização. Com outros analistas, Charles Pennaforte fez a sua avaliação.
A assinatura da Carta das Nações Unidas, documento que estabeleceu as diretrizes para a fundação da ONU em outubro de 1945, completa 80 anos nesta quinta-feira (26).
Ratificada por 51 países, incluindo o Brasil, a carta traçou as bases para a criação do organismo internacional, idealizado com o intuito de discutir e solucionar os principais temas globais e intermediar conflitos globais por meio do Conselho de Segurança da ONU.
Entretanto, a organização tem hoje uma imagem desgastada, obsoleta e ineficaz, falhando sobretudo em se adequar à nova ordem global multilateral liderada pelo Sul Global.
Em entrevista à Sputnik Brasil, especialistas explicam por que a ONU perdeu relevância e legitimidade na geopolítica atual.
O ‘antiquado’ CSNU
Para além da falta de representatividade de potências emergentes, a “configuração antiquada” do Conselho de Segurança é a raiz da ineficiência das Nações Unidas, afirma Charles Pennaforte, professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).
Como principal agressor estão os Estados Unidos, que, por meio de sua política de invasões ao longo dos últimos 25 anos, como nas guerras do Iraque e do Afeganistão, usou o órgão para satisfazer seus próprios interesses.
“Tenta-se encontrar um consenso. Ele até é conseguido, mas os EUA, de maneira geral, bloqueiam. E isso é um grande desgaste porque a ONU fica sem nenhuma função no sistema internacional.”
Segundo Pennaforte, que também coordena o Laboratório de Geopolítica, Relações Internacionais e Movimentos Antissistêmicos (LabGRIMA), a falta de modernização do Conselho de Segurança mantém toda a organização “alicerçada sobre uma base de pós-guerra” em uma configuração que não corresponde mais à realidade.
Para o especialista, ainda falta um pouco para a ascensão do Sul Global se consolidar. No entanto, ele aponta não haver dúvidas de que o BRICS possui grande envergadura econômica.
“É possível que, no longo prazo, os países do BRICS consigam exercer maior poder de influência. Tanto China quanto Rússia consideram que esse formato atual do Conselho de Segurança da ONU não corresponde mais à realidade. Então, a princípio, a partir deles é possível que haja uma reforma.”
Porém, ele afirma que, para que essa reforma ocorra, provavelmente será necessário “um grande problema, um colapso”, já que ela sempre vai “esbarrar nos EUA”, que relutam em ver sua influência reduzida cada vez mais por outros atores.
Ele cita como exemplo a questão da Faixa de Gaza, em que foi alcançado o consenso em torno de uma resolução de cessar-fogo que colocaria em xeque a postura do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, mas que acabou barrado pelos EUA, o único país a votar contra.
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